terça-feira, 1 de novembro de 2011

O VOLUNTARIADO COMO FORMA DO PROTAGONISMO JUVENIL

O Ano de 2011 está sendo o Ano Europeu do Voluntariado
Adolescentes de hoje: jovens que buscam, mas não sabem exatamente o que procuram, nem como irão encontrar o que desejam. Indivíduos que, apesar dos diferentes rótulos que uma sociedade lhes empresta, cada vez mais, demonstram um mesmo desejo de viver em mundo melhor. Há algum tempo, esses adolescentes têm carregado o estereótipo de passivos e irresponsáveis, porque não se envolvem com questões consideradas verdadeiramente relevantes. Afinal, como exigir a participação daqueles que não são nem estimulados, nem preparados a participar?
Acreditar no voluntariado jovem significa - é claro - acreditar no voluntariado e no jovem. Nos últimos anos, especialmente nesta década, vem tomando forma no Brasil a concepção de voluntariado como ação cívica; que tem como objetivo a mobilização de pessoas, empresas e instituições da sociedade civil para rever seus próprios problemas; tanto pela articulação de iniciativas e recursos, quanto pela reinvidicação de políticas públicas satisfatórias. A participação direta de cidadãos em atividades sociais pode contribuir para o enfrentamento da exclusão social e para a consolidação de uma cidadania participativa. Assegurar os direitos humanos e sociais passa a ser uma responsabilidade não apenas do Estado, mas de toda a sociedade.
Dentro dessa nova realidade, como se pode caracterizar o voluntário e o voluntariado? "O voluntário é o cidadão que, motivado pelos valores de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e não remunerada, para causas de interesse social e comunitário. Além de bem informado e consciente da complexidade dos problemas sociais, o voluntário trabalha considerando o horizonte da emancipação, ou seja, estimulando o crescimento da pessoa e da comunidade para resolver seus próprios problemas"1
Compreendido como empreendimento social, o voluntariado contemporâneo busca a eficiência dos serviços, a qualificação dos voluntários e das instituições. Além de competência humana e espírito de solidariedade, almeja-se a qualidade técnica da ação voluntária. Dentro dessa perspectiva, o voluntariado deixa de interessar apenas à classe média ou àqueles que têm tempo disponível e passa a ganhar espaço entre as empresas e as classes populares, a interessar a todos e ser da responsabilidade de todos.
Quem acredita no voluntariado, acredita na possibilidade de romper com o fatalismo, com a desesperança, com as atitudes meramente críticas ou reativas. Está disposto a contribuir para a formação de mentalidades proativas, capazes de promover a passagem para uma ordem produzida por todos e com todos.
A juventude é um grupo chave em qualquer processo de transformação social, principalmente agora, que adolescentes são o grupo etário mais numeroso do país. Segundo dados do IBGE, o Brasil tem hoje 34 milhões de jovens na faixa de 10 a 19 anos e, se o ritmo de crescimento da população for mantido, os adolescentes continuarão sendo o grupo etário predominante, pelo menos até o ano 2010. Mais do que nunca, aquilo que os jovens pensam, sentem, dizem e fazem tem relevância não só para eles mesmos, mas para toda a sociedade.
Embora possamos dizer que desapareceu a idéia de reinvenção do mundo nos moldes das décadas de 60 e 70, os jovens atuais, agrupados ou não em "tribos", também querem deixar sua marca. Uma pesquisa realizada em 1997, pelo Centro de Pesquisa Motivacional, junto a 1481 jovens das cinco maiores capitais brasileiras, indicou que embora apenas 7% dos entrevistados estavam envolvidos em algum tipo de ação voluntária, mais de 50% desejaria se engajar neste tipo de atividade. O adolescente tem vontade de atuar construtivamente na sociedade, porém faltam-lhe orientação e oportunidade.
As experiências com programas de educação de jovens mostram que muitos adultos têm representações estereotipadas dos adolescentes. Não confiam neles, sentem-se inseguros e pouco à vontade para considerar o jovem como parceiro e colaborador. Quem acredita em voluntariado jovem, tem de acreditar na dignidade do adolescente. Se acreditamos que o processo de construir-se como pessoa não termina nunca, temos de considerar que tanto o adolescente, quanto o adulto estão em construção, cada um num momento particular dessa trajetória. O adolescente tem o direito de ser ouvido, respeitado, ter suas necessidades atendidas e encontrar espaço para expressão de seus potenciais.
Porque somos paternalistas, não são raras as manifestações - claras ou veladas - de temores e preconceitos relacionados ao voluntariado jovem. Algumas delas estão comentadas, a seguir:

- Pensamos que o envolvimento do adolescente com atividades extra-escolares pode trazer prejuízos para sua formação acadêmica e para seu futuro profissional, (Você devia pensar no seu futuro e não perder tempo com essas coisas);
- Tememos que o contato do adolescente com a diversidade social, com as contradições e conflitos possa afastá-lo dos valores dominantes em sua família, religião ou grupo social e levá-lo a tornar-se desajustado, rebelde ou revolucionário (Olha lá aonde isso vai te levar);
- Desqualificamos o idealismo e o interesse do jovem por considerá-lo passageiro, inconseqüente, uma espécie de doença da idade que, logo, logo, vai passar, (Quando eu tinha a sua idade também achava que podia mudar o mundo);
- Descremos no potencial do jovem (Os adolescentes são aborrecentes: não sabem o que querem, vivem com a cabeça no ar, não cumprem horários, não conseguem assumir compromissos. Além disso, não têm habilidades específicas, portanto, têm pouco ou nada a oferecer);
- Tememos que a liberdade de ação e a autonomia dos jovens nos levem a perder o controle sobre eles (Se deixarmos os jovens decidir e atuar por conta própria, as conseqüências serão desastrosas).

No relacionamento pessoal e social, as pessoas projetam umas nas outras representações e expectativas, que tendem a concretizar-se em atitudes e comportamentos. O que pensamos e sentimos em relação aos adolescentes tende a funcionar como profecia auto-realizadora. Se partimos do pressuposto de que os adolescentes são capazes, eles provavelmente se mostrarão capazes. Se confiarmos, eles se mostrarão confiáveis. Se acreditamos, de fato, que o adolescente é uma pessoa e um cidadão, passamos a ouvi-lo e respeitá-lo como parceiro, na construção de uma sociedade melhor.
A força básica do voluntariado contemporâneo é a pessoa que, participando livremente de ações solidárias, tem oportunidade de encontrar-se consigo mesma e com os outros. Não se pode conceber o voluntariado, especialmente o do jovem, como execução de tarefas mecânicas, sem possibilidade de escolha e criação pessoal. O jovem - como também o adulto - só se envolve verdadeiramente quando é considerado sujeito, quando é estimulado a criar e a assumir responsabilidades.
Os adolescentes voluntários devem, nessa perspectiva, ser vistos como interlocutores e parceiros dos adultos, e podem, de acordo com seu interesse e evolução, tornar-se também reeditores e líderes de programas voluntários. Cabe-lhes, portanto, uma participação ativa e crítica. Trata-se de conferir-lhes o status de cidadãos e construir uma forma de relação em que jovens e adultos, juntos, façam escolhas, tomem decisões, implementem e avaliem ações que digam respeito ao bem-comum.
Educar os jovens para o desenvolvimento de ações solidárias, significa envolvê-los ativamente em seu próprio processo de crescimento pessoal, na melhoria das condições de sua vida e de sua comunidade.
O processo educativo enfatiza a autonomia e a solidariedade, por meio de vivências, reflexões e contato direto com as pessoas e entidades que desenvolvem ações no campo social. Os adolescentes aprendem a lidar com suas diferenças; identificar-se, enquanto um grupo com objetivos comuns, ao mesmo tempo em que refletem e debatem sobre temas como auto-estima, comunicação, valores, cidadania e direitos humanos, saúde e sexualidade, violência, uso indevido de drogas, leitura crítica dos meios de comunicação e consumo. Decorridos alguns encontros de formação, os adolescentes visitam entidades, entrevistam pessoas e aprendem a formular propostas de atuação social. Em contato com entidades ou recorrendo a profissionais especializados, adquirem uma formação básica para atuar com a questão, público ou atividade escolhida. Os projetos são acompanhados por educadores ou profissionais vinculados às entidades.
A atuação em problemas reais e a orientação para uma tarefa propiciam a oportunidade de aprendizagem prático-vivencial, que integra o sentir, o pensar e o agir. Assim compreendido, o voluntariado jovem torna-se um espaço de formação de pessoas autônomas, capazes de fazer projetos. São os projetos que dão sentido à vida, que nos lançam para o futuro. Oferecer, aos adolescentes, oportunidades de envolver-se na solução de problemas reais, é oferecer-lhes chance de produzir sentido, definir rumos, transformar em textos coerentes e inovadores os fragmentos de informação a que estão expostos. Significa criar espaços para que eles possam exercitar a construção do seu projeto de vida, tornando-se autores e protagonistas de sua própria vida.
Enfim, ao associar-se a seus pares e a adultos-parceiros em projetos de atuação voluntária, os adolescentes têm a chance de desenvolver:

- Percepção, sensibilidade, flexibilização e adaptabilidade;
- Capacidade de reflexão e interpretação da realidade social;
- Auto-estima, iniciativa e confiança em si mesmos;
- Capacidade de escolha e de tomada de decisão;
- Habilidade de conviver e trabalhar cooperativamente em grupo;
- Habilidade de associar-se com adultos com base na parceria, apreciação e respeito mútuos.

O voluntariado jovem pode acontecer, tanto através de ações criadas pelos próprios adolescentes, como pelo seu engajamento em uma organização de fim social, que tenha um programa de voluntários.
Como afirma Antônio Carlos Gomes da Costa, há muitas maneiras de dizer sim a uma causa social. A adesão ao voluntariado admite respostas com nuances e gradações. A meta do facilitador e das instituições que desenvolvem programas de formação de adolescentes voluntários dever ser atingir o que Antônio Carlos Gomes da Costa considera o degrau mais alto da escada da participação, que corresponde à autonomia em todas as etapas de desenvolvimento de uma ação.2 Quando os jovens atingem a autonomia, a iniciativa da ação parte deles próprios, que são capazes também de planejar, executar, avaliar e apropriar-se dos resultados dessa ação (protagonismo juvenil). Entretanto, temos de estar conscientes de que a caminhada em direção à autonomia é um processo longo, não ocorre ao mesmo tempo e no mesmo ritmo em todos os adolescentes. É, pois, fundamental respeitar e valorizar os progressos de cada um.

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